O uso excessivo de medicamentos na "geração prateada", também conhecido como sobrecarga de medicamentos, representa um problema significativo de saúde pública. Estudos recentes mostram que até 42% dos idosos estão tomando cinco ou mais medicamentos regularmente, uma prática que aumentou três vezes nas últimas duas décadas. Esse uso excessivo está associado a efeitos adversos, incluindo hospitalizações frequentes, declínio cognitivo e até mesmo risco aumentado de mortalidade. Estima-se que só nos EUA, 750 idosos são hospitalizados diariamente devido a complicações de medicamentos, e os custos desses eventos chegam a bilhões de dólares anualmente.
Causas e soluções potenciais A cultura médica de prescrever para cada queixa, a influência da indústria farmacêutica e a falta de comunicação entre diferentes profissionais de saúde contribuem para essa sobrecarga. Muitas vezes, novos medicamentos são adicionados para tratar efeitos colaterais de outros, criando um "ciclo de prescrição".
Para mitigar esses riscos, especialistas sugerem ações, incluindo:
Promoção da desprescrição: Avaliar e reduzir ou interromper medicamentos desnecessários.
Treinamento profissional: Incluir a gerontologia e práticas de desprescrição nos currículos de formação e treinamento contínuo dos profissionais de saúde.
Redução da influência farmacêutica: Limitar a publicidade direta ao consumidor e visitas de representantes farmacêuticos aos médicos.
A desprescrição como forma ética de salvar vidas
A "desprescrição" ou retirada controlada de medicamentos é uma abordagem emergente de segurança para reduzir os riscos de eventos adversos relacionados ao uso excessivo de medicamentos, especialmente entre idosos. Com o aumento da prescrição de múltiplos medicamentos para doenças crônicas, a prática tem potencial para salvar vidas ao prevenir complicações e efeitos colaterais. Estudos apontam que a "sobrecarga de medicamentos" está relacionada a quedas, hospitalizações e até mortalidade precoce. Estima-se que até 150.000 mortes prematuras poderiam ser evitadas ao longo da próxima década nos EUA por meio da desprescrição adequada
Para garantir que os medicamentos realmente atendam às necessidades do paciente, profissionais de saúde podem realizar "check-ups de prescrição," avaliando todos os medicamentos e ajustando ou descontinuando aqueles que não são mais necessários ou que apresentam mais riscos do que benefícios. Esse processo cuidadoso ajuda a melhorar a qualidade de vida, reduzindo a carga medicamentosa e minimizando interações perigosas entre remédios.
Um estudo inédito conduzido por brasileiros e publicado no periódico Journal of the American Medical Directors Association, alerta sobre o perigo de alguns remédios para pessoas na terceira idade e seus impactos na saúde pública.
Muitos medicamentos amplamente prescritos para idosos apresentam riscos que podem superar seus benefícios devido ao aumento da sensibilidade do corpo aos efeitos colaterais com o envelhecimento. Entre as categorias de maior risco estão analgésicos, anti-inflamatórios, antidepressivos, ansiolíticos e medicamentos para insônia.
Alguns exemplos:
Analgésicos opioides: Embora sejam eficazes no tratamento da dor, opioides como a morfina e a oxicodona aumentam o risco de quedas, confusão e dependência nos idosos. Em muitos casos, a dor pode ser gerida com alternativas menos agressivas.
Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): Ibuprofeno e naproxeno, por exemplo, são frequentemente associados a problemas gastrointestinais, como úlceras e hemorragias, além de aumentarem o risco de insuficiência renal e complicações cardiovasculares.
Antidepressivos tricíclicos e inibidores da monoamina oxidase (IMAO): Essa categoria inclui amitriptilina e fenelzina, que são mais propensas a causar confusão, queda da pressão arterial, e até arritmias em idosos.
Benzodiazepínicos e outros sedativos: Usados para insônia e ansiedade, medicamentos como diazepam e lorazepam são associados a um risco elevado de quedas, comprometimento cognitivo e dependência.
Antipsicóticos de primeira geração: Comumente usados em pacientes com demência, os antipsicóticos, como o haloperidol, têm sido relacionados a aumento do risco de acidente vascular cerebral e morte prematura.
Influência da indústria farmacêutica
O lobby da indústria farmacêutica pode ter um papel significativo na promoção do uso desses medicamentos, às vezes sem evidências suficientes para apoiar sua segurança ou eficácia em idosos. A influência inclui visitas de representantes a médicos, publicidade direta ao consumidor e financiamento de pesquisas que podem viabilizar a aceitação mais ampla desses medicamentos, mesmo quando há riscos documentados. Esse contexto leva a prescrições que podem ser motivadas por interesses comerciais em vez de focar no bem-estar do paciente.
Medidas necessárias
Profissionais de saúde estão cada vez mais alertas para a necessidade de avaliar o uso de medicamentos em idosos, com diretrizes que recomendam a desprescrição e a preferência por abordagens menos invasivas. A conscientização e a educação do público sobre os riscos de muitos desses fármacos podem ajudar a proteger a saúde dos idosos e reduzir a dependência da medicação em favor de outras abordagens mais seguras e integradas ao cuidado.
Trata-se mesmo de uma longa lista de fármacos de diversas categorias que apresentam mais riscos de efeitos adversos do que benefícios entre os mais velhos, principalmente em contextos em que existem opções mais seguras.
O uso destas drogas pode agravar o quadro clínico e aumentar os custos para o sistema de saúde. Para o estudo, foram analisadas cerca de 15 mil internações de pessoas com 60 anos ou mais entre 2022 e 2023.
“Os dados foram extraídos dos prontuários eletrônicos, dos registros de eventos adversos e do Medi-Span, que é um sistema de suporte à decisão clínica que alerta os prescritores sobre erros, doses inadequadas e risco de eventos adversos”, explica o médico geriatra Pedro Curiati, do Núcleo de Medicina Avançada do Hospital Sírio-Libanês, responsável pela pesquisa.
Durante a pesquisa, foram avaliados os alertas relacionados a MPIs para pessoas idosas emitidos pelo Medi-Span e sua associação com riscos clínicos e com custos hospitalares. Os resultados apontaram que 71,8% dos pacientes apresentaram pelo menos um aviso de uso dos compostos inadequados.
Ou seja, 7 em cada 10 idosos internados podem ter recebido algum destes medicamentos. “Pacientes cujas prescrições acionaram esses alertas tendem a ter internações mais prolongadas, incluindo complicações com múltiplas variáveis, que poderiam ser evitadas.
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Atenção: a prescrição de medicamentos é de competência médica. Desta forma, tanto a desprescrição como os riscos gerados à população, com vistas em interesses comerciais, também são da atuação médica. Profissionais da saúde integrativa, não-médicos, não fazem prescrições de medicamentos.
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