Por: Daniele Habib
De acordo com a Organização Mundial da Saúde a obesidade é um dos mais graves problemas de saúde que temos para enfrentar. Em 2025, a estimativa é de que 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estejam acima do peso, sendo 700 milhões de indivíduos com obesidade, isto é, com um índice de massa corporal (IMC) acima de 30. Fonte: https://abeso.org.br/obesidade-e-sindrome-metabolica/mapa-da-obesidade/
Diante desta informação, percebe-se que algo está errado nas escolhas feitas em nossa vida moderna.
Os profissionais da naturopatia sabem da relevância desse tema e têm clareza de que esta questão de saúde é multifatorial. Aqui o ser humano é sempre visto na sua integralidade. Alguns fatores podem ser destacados, tais como: o tipo da alimentação escolhida, a ausência de atividade física, a má qualidade do sono, e distúrbios emocionais.
Além destes fatores citados eu trago um tema para nossa reflexão. Você presta atenção na maneira como você come?
Atualmente o mais importante para as pessoas é não perder tempo, valendo-se da premissa de que “tempo é dinheiro”. Em todo o momento todos querem se sentir úteis. A sensação é de que o dia é muito curto para todas as responsabilidades e tarefas que precisam desenvolver. Para isso, é muito comum que haja o uso dos momentos de refeição para se atualizar com as notícias do jornal da TV, assistir ao seriado para não ficar atrasado, olhar as redes sociais e curtir alguns posts. Além de responder algumas mensagens dos aplicativos do celular. Enfim, a mente está focada em várias atividades extras, exceto no ato de comer.
Já parou para pensar quais são as consequências desse comportamento? Um estudo realizado pela Universidade de Birmingham em fevereiro de 2013, publicado no American Journal of Clinical Nutrition, constatou que pessoas que focam na refeição tendem a comer menos em comparação com aquelas que estão distraídas assistindo à televisão e têm mais chances de ganhar peso e se tornarem obesas, de acordo com Daron Mcclain. Tudo começa em nossa boca! Temos os dentes para mastigar os alimentos, a saliva com suas enzimas fundamentais para iniciar o processo químico de digestão dos alimentos e a língua, o órgão sensorial que nos sinaliza se um alimento é agradável, e se está em condições de ser ingerido. Além disso, nos sinaliza se um alimento é doce, salgado, azedo, amargo, quente e frio. Quando o foco da atenção está em outra atividade e não no ato de comer, deixa-se de perceber e reconhecer todas as sensações que a língua envia ao cérebro. Dessa forma, come-se mais do que é necessário, uma vez que o cérebro precisa de um tempo para reconhecer e enviar a mensagem de que não existe mais fome e que já há saciedade.
Quando um alimento é muito saboroso proporcionando prazer, se a atenção não está no ato de comer, necessita-se de mais garfadas deste, para que o mesmo passe várias vezes pela língua para que a sensação seja sentida em pelo menos uma delas.
Por exemplo, em situações eventuais em que se sente vontade de comer algo doce, um pedaço apenas já seria suficiente para satisfazer este desejo, porém como a nossa atenção não está aí, come-se muito mais.
A falta de autopercepção pode criar confusão ao pensarmos que estamos com fome, quando na verdade estamos com sede. O nosso cérebro não diz muito claramente se é fome ou sede, então ao invés de tomarmos água, comemos algo para matar a fome, o que na verdade era um sinal de sede. Esse ato pode se repetir muitas vezes durante o dia, podendo gerar uma ganho de peso desnecessário.
Outra questão relevante é a qualidade nutricional do alimento ingerido. Se a escolha é de um caminho mais “fácil” como o de comidas ultra processadas e com pequeno valor nutricional, o corpo de forma inteligente indica que ainda existe fome, porém se esta fome for novamente “saciada” com outro alimento no mesmo perfil nutricional, este ciclo vai se repetir por várias vezes podendo gerar sobrepeso ou até mesmo alguns sintomas desagradáveis e riscos mais sérios.
As emoções também influenciam muito na escolha e na quantidade dos alimentos que se ingere. É importante refletir porque o nosso corpo está pedindo determinado alimento. É ansiedade, preocupação, medo, nervosismo ou frustração? Como está a sua mente no momento em que ela pede esse alimento? Quando isso acontecer, pergunte-se “Eu comeria arroz com feijão?” Se sim, era fome real, se a resposta for não, era apenas uma fome emocional. O ato de viver o presente, promove a conexão com as sensações e emoções, promovendo consciência de si mesmo.
Olhe com atenção e respeito para esse momento de pausa com foco no ato de alimentar-se. Faça um minuto de silêncio antes de iniciar a refeição agradecendo pelo alimento que está em sua mesa. Pense em quantas pessoas estiveram envolvidas em toda a cadeia produtiva desde a sua plantação e a colheita até chegar à sua mesa. Coma devagar e mastigue bem os alimentos. Experiencie o ato de preparar os alimentos colocando sua presença neste momento. Convide as pessoas da casa para participar com pequenas tarefas e perceba quão valiosa é a colaboração.
Convido você para fazer uma experiência sensorial. É só lembrar de quando você era criança e brincava de sentir os sabores e descobrir qual era determinado alimento com os olhos vendados. Brinque novamente com as crianças. Faça do ato de comer um momento de vivência. Sinta os sabores, perceba as texturas e as temperaturas dos alimentos. Viva o momento presente!
Mindful Eating para uma vida melhor e mais saudável! Namastê!
Referências Bibliográficas:
https://abeso.org.br/obesidade-e-sindrome-metabolica/mapa-da-obesidade/, acesso em 12/10/2021.
DARON, MacClain. Mindful Eating: What Zen Masters Can Teach You About Eating and Mindfulness. Independently Published, 2020.
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