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O limite da autocura.

“Um dia a vida vai ser boa”.

A segurança psicológica baseada no pensamento de que um dia tudo virá a ser, torna-se o alento e o assento, sobre o qual muitos repousam.

“Vejo que toda a minha maneira de viver, meus pensamentos, minhas atitudes, crenças, são resultados desse enorme período de tempo. O tempo é toda a minha existência. Num passado que não pode ser mudado eu me refugio, alimentando para o futuro expectativas positivas.”

Somos fruto de um passado. Ao tentarmos abandoná-lo surge o questionamento:

Se elimino isso, o que me resta? Se elimino todas as coisas do passado que são contraditórias, o que me resta?

Somente ir ao trabalho?

Esse é o motivo pelo qual não o abandonamos. Todo o nosso ser é passado. Modificado, alterado, mas com raízes no passado.

Se eu disser:

-Olhe o futuro à sua frente! Abandone tudo. Ainda assim o passado será melhor. Quero ter certeza como ser humano, de algo que eu possa me apegar.

Estará o meu cérebro disposto a ver que não há absolutamente nada, se eu abandono o passado?

Estou disposto a encarar “o vazio”? O cérebro está disposto a encarar esse estado extraordinário totalmente novo para ele? De ser, de existir, em um estado de nada? Sem punição ou recompensa?

Existe a segurança psicológica absoluta?

O condicionamento estabelece o nível da importância da segurança psicológica. E isso por sua vez, cria a segurança.

Acreditamos na estabilidade da vida, numa falsa segurança psicológica que traz uma relação de continuidade.

Ao pensar em morrer e ir para o céu, muitos passam a ter uma segurança psicológica, não importa o que aconteça.

Isso faz com que se sintam bem.

Se consideramos que após uma turbulência política tudo estará em ordem, tudo vai valer a pena e vai funcionar. Então tudo ficará bem. Então nos sentimos seguros internamente mesmo se as condições forem difíceis.

Isso existe de fato?

Quando acredito em Deus, me dá a certeza da impermanência aqui, mas a certeza da permanência em outro lugar.

O trabalho, a rotina, o conhecimento, trazem segurança psicológica a algumas pessoas.

No entanto questiono e percebo que tenho conflitos com relação à minha segurança.

Sinto que as vezes não estou certo a respeito.

Mas a crença num paraíso, restabelece minha segurança novamente.

Mas você sente que há algo imperecível dentro de você?

Pois você pode passar por algo e pensar: isso é pequeno. O que importa é que há algo maior. Tem algo dentro de você em que pode se agarrar e que não é perecível?

Você sabe que está lá. Nunca vai se corroer e você pode contar com ele.

Então, nesse caso, seria algo com que posso contar. Parte do nosso condicionamento diz que temos que ter algo seguro e permanente.

Se você sente que algo ruim está por vir no futuro, você já sofre com isto e quer se livrar.

Segurança psicológica então é a antecipação de que tudo estará bem no futuro.

Se não está bem agora, mas ficará!

Então segurança é tornar-se?

Eu encontrarei alguém para amar, me tornarei um médico famoso, serei o melhor pai, vou me tornar…

E a vida segue toda assim.

Tudo está focado em que a vida vai ser boa.

Mas, a vida pode não ser tão boa.

Haverá desapontamento, solidão, sofrimento, dor e doença.

Afinal, já estamos conscientes do movimento do pensamento.

São esperanças vãs?

Existe segurança psicológica?

Nós definimos o que é a segurança psicológica, porque ela não existe.

Materialmente tudo muda, se transforma. Mentalmente tudo em sua cabeça está se transformando o tempo todo.

Não pode confiar em ser saudável o tempo todo. Não pode confiar em ter tempo livre o tempo todo, não pode confiar em ter dinheiro sempre.

Então se não existe permanência psicológica que significa nenhum amanhã psicologicamente, então você afasta toda a esperança de que as coisas ficarão melhores.

Por que não admito isso?

Por que não digo que não haverá segurança psicológica?

Posso? Sou capaz?

O ego requer segurança e, portanto, aceitar o fato de que ela não existe, cria resistência.

A ação acontece pela percepção.

Perceber que estou me agarrando em algo, me traz segurança.

Você está em sua casa, ela é sua e isso lhe traz segurança física.

Um homem que não tem casa diz: me dê uma casa, uma esposa, um emprego e eu me sentirei seguro.

Mas quando há uma greve, ele se sente perdido. Mas tem o sindicato por trás dele, ele se sente seguro e esse sentimento de segurança penetra no psicológico.

Essa estrutura passa a ser o modo inteiro pelo qual vejo tudo no mundo.

A figura, a imagem, a conclusão e a segurança.

Por que essas imagens são mais fortes do que um mármore, uma montanha?

A única coisa real sou eu. Então por que tudo isso em torno parece ter tanta importância?

Posso romper todo esse processo, atravessá-lo e ir além dele pela percepção.

Se sinto que minha segurança está numa imagem que tenho (uma habilidade física, ou um quadro…) então eu trago da abstração para uma realidade.

Por exemplo:

Você é um professor.

Baseado na experiência, na pesquisa, no conhecimento você é um professor.

Então, como conclusão, você é capaz de dar aulas. Essa é sua crença. A crença de que você é um professor baseia-se em tudo isso. Logo, você continua agindo para manter isso.

O que de fato é real nisso?

Sua aprendizagem, sua experiência diária, seu conhecimento. Isso é um fato. O resto é conclusão sua. Assim é a saúde, a doença e a vida.

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